Quando os pais se separam (1988) – Françoise Dolto – psicanalista francesa.

O livro tem como base a experiência clínica no tratamento dos recalques dos adultos que tiveram pais separados e acabaram por repetir o fracasso também na sua vida conjugal.

Dessa análise, a psicanalista francesa extrai a importância do ato do divórcio para as crianças. É um marco em uma situação que, em geral, se arrasta por longos períodos. Um tempo de brigas e acusações mútuas em que as crianças não são consideradas, como se ali não estivessem vivenciando aquele momento. Quando nasce o recalque, pois nada é lhe falado e tudo acaba imaginado pela criança, inclusive sua culpa na desavença dos pais.

Nesse momento de decisão é fundamental explicar a distinção entre a relação conjugal e a parental, que permanece.

É também nesse momento que podem se verificar os primeiros sinais de alienação parental, em regra, praticada pela mãe e de abandono afetivo, pelo pai. Em geral, as crianças ainda fixam residência com a mãe após a separação, o que abre espaço para a exteriorização de todas as frustrações dela sobre os filhos, em desfavor do pai, agindo para afastar os filhos, em termos físicos e psíquicos, do pai. Essa conduta é notadamente perigosa para os meninos, que dão importância ao pai a partir do discurso materno, pois não mantêm com ele uma relação de sexualidade latente.

Por outro lado, o pai, tomado pela dor, muitas vezes se separa da família e não apenas da mãe dos seus filhos, o que traz o chamado abandono afetivo.

Evitamos a alienação, o abandono afetivo e mesmo o recalque infantil com a abertura em palavras sobre o momento vivenciado. É o que a autora chama de “ventilar o afeto”, ou deixa-lo sair em palavras para que cesse aquela angústia contida, expressa pelo mal humor. Com a fala, fazemos o inconsciente trabalhar no real e não naquilo que apenas imaginamos e idealizamos (animalização), o que humaniza a relação. Vivenciar a realidade traz maior autonomia para as crianças.

Porém, não se faz necessário pormenorizar o motivo da separação. Até porque este motivo é sempre falso, pois coberto pela neurose. O melhor caminho é enfatizar que a relação que acaba trouxe algo precioso para o casal: os filhos.

A saída para uma solução consentida no divórcio pode estar na fala. Quando os envolvidos deixam o imaginário e se interessam pelo real, seu e do outro. Esse primeiro passo pode ter início em um consultório psicanalítico ou mesmo no escritório de advocacia com abordagens distintas, claro. No escritório se busca uma conversa mais objetiva e atenta as questões práticas da separação e não a busca da origem dos conflitos pessoais ou do casal.

Porém, mesmo no escritório de advocacia, o simples ato de permitir a fala das questões que trazem angústia, resulta em maior consciência do real e possibilita aos envolvidos e também ao profissional levantar hipóteses de conciliação que atendam os anseios de todos.

O escritório de advocacia é a porta do judiciário. Tratar as questões em palavras vai fechando aos poucos essa porta e abrindo outras ainda invisíveis.

Também ao juiz, em audiência de conciliação, é dada a escuta das partes, frente a frente, para torna-la uma possibilidade efetiva e não apenas uma obrigação processual.

Em favor das crianças, o juiz, o advogado ou quem intervier, deve alertar as partes que a determinante naquela separação não é o problema de cada um, mas sim os filhos e a idade deles.

Toda a discussão em meio ao processo de separação e as divergências percebidas pelo filho, diante da externalização confusa do conflito pelos pais, trazem um forte sentimento de culpa para a criança, percebida na puberdade. A culpa de ter origem naquele casal, de atrapalhar a vida dos pais. Enfim, de ter nascido. Com isso, há um sentimento de vazio, uma falta de lugar na vida.

Porém, na realidade, o divórcio trata-se do “desejo morto entre dois adultos”.

É essa ausência de relação entre os pais precisa ser explicada para a criança, afastando a relação de parentalidade do centro do divórcio.

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